4ª lição — documentum quartum
A pronúncia do latim
Ler um texto escrito em latim é, praticamente, como ler um texto escrito em português. A pronúncia é igual.
A evolução da língua latina nas diferentes regiões do império romano, em contacto com os falares locais, levou a que o latim começasse a ser pronunciado de forma diferente do que seria a língua falada em Roma. A distância em relação ao centro, Roma, as características daqueles que trouxeram a língua às diferentes regiões — magistrados, soldados e outros — foram factores importantes na introdução do latim que, com a influência das línguas autóctones, foi sofrendo evolução.
Assim, temos de considerar para a pronúncia do latim essa influência local. Por isso a pronúncia, dita tradicional, é diferente em Portugal, em França ou na Itália.
A. Os filólogos fizeram estudos comparativos e estabeleceram o que seria a pronúncia clássica da língua latina.
- o alfabeto latino não tinha as letras j e v (só foram introduzidas mais tarde,no século XVI, pelo humanista Petrus Ramus — daí chamarem-se letras “ramadas”— para representar o i e o u com funções consonânticas).
- As vogais a e o eram, em geral, abertas
- As semivogais i e u tinham valor consonântico antes de vogal
- Os ditongos:
- ae pronunciava-se ai (exemplo: personae - personai)
- oe pronunciava-se oi (exemplo: poena - poina)
5. O c é sempre gutural surda (exemplo Caesar - Kaiser)
6. O g é sempre gutural sonora (como no português garganta)
7. O s é sempre sibilante surda (exemplo: nisi – nissi)
8. O t é sempre uma dental surda (exemplo: scientia – skientia)
9. O m e o n em final de palavra pronunciam-se sempre (não vão anasalar a vogal anterior, como em português)
10. O h tinha uma aspiração
B. A pronúncia dita tradicional aproxima o latim da evolução que depois teve para o português. Assim:
- o grupo –ti- seguido de vogal (mas não precedido de s,t,x), lê-se –ci-
exemplo: initium (inicium) — hostium (hostium)
2. Os ditongos ae e oe lêem-se como e
exemplo: caelestis (celestis); poena (pena)
3. Os grupos ch, ph, th, rh lêem-se como k,f,t,r
exemplo: philosophus (filosofus); theatrum (teatrum)
C. Há, ainda, a pronúncia eclesiástica, a pronúncia usada na Igreja Católica, que segue a pronúncia de Roma. Esta aproxima os sons latinos dos sons da língua italiana.
— Nas escolas, na leitura dos autores clássicos, usa-se a pronúncia clássica ou restaurada.
— Nas expressões latinas que regularmente usamos em português, e que entraram no uso comum, é costume usar-se (e faz mais sentido) a pronúncia tradicional. Assim, em curriculum vitae, diremos curriculum vite, e não curriculum uitai.